sábado, 9 de abril de 2011

O olhar ferido!



Lendo esse post, "o olhar ferido", no blog confessionário dum padre, me pus a pensar sobre a importância do olhar e sobre o que se passou com essa catequista lá bem longe de nós, em Algures-Portugal. Em outros pontos, percebi que mesmo  distantes, comungamos das mesmas dificuldades em nossa catequese.

Em minha caminhada catequética, ainda não fui advertida pelo meu jeito de olhar, não sei se você já foi. Uso muito dessa linguagem e meus catequizandos já me conhecem. Tem o olhar de carinho, o olhar que diz; "espera só um pouquinho, até eu terminar meu raciocínio...", tem o que breca qualquer tentativa de dispersão do assunto; " Ahm, ahm, agora não é hora dessa pergunta ou desse comentário", Tem o olhar de desconsolo/decepção quando você tenta de todas as maneiras conduzir o encontro e não consegue...

Fui criada, educada,  ou melhor, sou do tempo em que se respeitava o olhar dos pais, professores. Sabia quando não podia intrometer numa conversa de adultos, só pela maneira com que meu pai me olhava. Caso contrário, sabia que levaria uma bronca danada quando chegasse em casa ou quando as visitas fossem embora. Então,  tenho o costume de me expressar através do olhar.

O olhar diz coisas que muitas palavras não dizem. Quer saber como uma pessoa está, preste atenção em seu olhar. Por mais que tentamos,  não conseguimos  disfarçar nossos sentimentos, quando estamos tristes, com raiva, alegres. O olhar não mente!

Esse relato chamou-me a atenção, porque conforme diz o padre abaixo, hoje em dia, não podemos corrigir de forma alguma, nem pelo olhar... Nossos filhos, raramente entendem essa linguagem ou fingem não entender...

A Manuela é catequista do terceiro ano. Boa catequista e boa mãe. Simples. Tímida. Mas nas coisas da catequese sente-se a fazer algo de Deus e por isso entusiasma-se. Ontem estranhei a sua pressa em falar-me. Preciso desabafar consigo. Imaginei que viria repetir-me aquelas que ultimamente são as reclamações habituais dos meus catequistas. Os miúdos estão insuportáveis. Não querem nada. Não os vemos na missa. Faltam muito. Distraem-se e faltam ao respeito. Usam tudo para implicar connosco.

 As reclamações dos catequistas estão como o tempo. Frias. Ásperas. Caem como chuva, a desoras e em enxurradas. Mesmo as pequenas tempestades, de abundantes, soam a grandes temporais. Tento pensar que é ocasional. Que a seguir vem lá o sol e que esqueceremos depressa este frio. Por isso dispus-me, com alguma displicência, a ouvir a Manuela. Como estava com as mãos ocupadas, continuei a movimentá-las, seguindo-as com os olhos. Sabe, padre, ontem uma mãe veio ter comigo com um ar muito zangado, e a primeira coisa que me disse foi A senhora feriu o meu filho!

As minhas mãos pararam e eu parei também. Continuei com os olhos nelas. Mas o pensamento voou para a Manuela. Que teria acontecido? Perguntei. Ela respondeu com a pergunta que fez à dita mãe. Como, se eu nem lhe toquei? Ao que se seguiu a resposta da mãe. Feriu-o com o olhar.

Neste momento, os meus olhos e o meu olhar deixaram as mãos e voltaram-se completamente para a Manuela. As mãos ficaram desamparadas. Não sei sequer onde as coloquei, de tão estranha me ter parecido a reclamação daquela mãe. Aos tempos a que chegámos, onde já nem com o olhar podemos fazer educação!

Garanto que a Manuela é boa catequista e não vai desistir de olhar quem quer que seja. Mas são muitas as pessoas que querem fechar os olhos ou mantê-los fechados.

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