terça-feira, 1 de março de 2011

Quando a missa se torna uma obrigação, um hábito...

Tem um blog que sempre gosto de passar para dar uma espiadinha, é o blog "confessionário dum  padre", de Algares-Portugal. 
 Estava lendo hoje um post sobre a preocupação de seu Américo em ter faltado da missa por estar doente. É que ele por 28 anos seguidos, nunca havia faltado... Clique aqui e leia na íntegra...
http://eupadre.blogspot.com/2011/03/o-americo-faltou-missa.html

Procurando algo em meus documentos, encontrei esse texto, vejo que nós passamos por isso na catequese... eu sabia que esse título não me era estranho!!

Quando a missa se torna uma obrigação…

Sua voz parecia me pedir socorro…

A pergunta

O menino chegou e perguntou-me: “Padre, eu sou obrigado ir à missa?”. Olhei seus olhos e percebi uma honestidade na questão formulada. Junto da honestidade, havia uma ansiedade que lhe impedia o sorriso. No rosto, não havia alegria. Estava tomado de uma certeza de que a liturgia católica, para ele, estava longe de ser um acontecimento que lhe extraia gratuidade. Era uma obrigação a ser cumprida.

Sua voz parecia me pedir socorro, feito escravo com sua carta de alforria em mãos, a me pedir assinatura.

Naquele momento, fiquei sem palavras. Senti o coração apertado no peito e o desejo de nada responder. Reportei-me à Escritura Sagrada e senti-me como o próprio Abraão, diante do questionamento de Isaac: “Pai, onde está a vítima do sacrifício?” (Gn 22, 7). Pergunta que não tem resposta. Pergunta cheia de ansiedade, de silêncio, de motivos, honesta e plena de razões.

Olhei-o com muita firmeza e resolvi desafiá-lo: “É obrigado visitar alguém a quem se ama?”. Ele disse: “Não, não é não, padre”. Seguiu-se o silêncio. Calou-se ele, e eu também.

A pergunta que não cala

Algumas horas depois, retomei sua pergunta e fiquei pensando nela. Coloquei-me a pensar na religião que se apresenta ao coração humano como obrigação a se cumprir, feito mochila pesada que se leva nas costas.

Fico pensando no quanto a obrigação pode se opor ao prazer. E o quanto é contraditório fazer a religião ser o local da obrigação. Na expressão: “Deus é amor” definição que João nos apresenta em sua carta, está a declaração da gratuidade de Deus.

Deus é o próprio ato de amar. Ele é o amor acontecendo, e a liturgia é a atualização dessa verdade na vida das pessoas. Ir à missa é tomar posse da parte que nos cabe.

Tudo o que ali se celebra e se realiza tem o único objetivo de nos lembrar que há um Deus que se importa conosco, que nos ama e quer nos ver mais de perto. O sacramento nos aproxima de Deus.

Tudo bem, essa é a Teologia, mas e a vida, corresponde à verdade teológica?

Nem sempre. Nosso rito, por vezes, cansa mais do que descansa. É lamentável que a declaração de amor de Deus por nós tenha se tornado uma obrigação.

Sou obrigado a ouvir alguém dizer que me ama?

Se muita gente pensa assim, é porque não temos conseguido “amorizar” a celebração. Racionalizamos o recado de Deus e o reduzimos a uma informação fria e calculada. Dizemos: “Deus nos ama!”, da mesma forma como informamos: “A cantina estará funcionando depois da missa!”.

A resposta que responde perguntando

Pudera eu ter uma solução! Ou quem sabe uma resposta que aliviasse os corações que se sentem obrigados a conhecer o amor de Deus, como o coração daquele menino. Talvez, o teu coração também já tenha experimentado essa angústia e essa ansiedade. Gostaria de saber restituir o sabor lúdico das celebrações católicas. Torná-las acontecimentos reveladores, palavras para não serem esquecidas e imagens que despertassem o coração humano para o desejo de descansar ali todas as questões existenciais que o perturbam. O problema não está no conteúdo do que celebramos, mas, sim, na forma. A natureza simbólica da vida é o lugar do encanto. Por isso, a celebração é cheia de símbolos. Mas o símbolo, se explicado, deixa de ser símbolo, perde a graça e deixa de comunicar. Talvez seja isso o que tem acontecido conosco. Na ansiedade de sermos eficientes, tornamos a celebração um local de comunicar recados. Falamos, falamos, de maneira ansiosa, cansada e repetitiva. Temos que falar algo, pois também o padre tem a sua obrigação!

E assim vamos celebrando, obrigando o coração e os sentidos a uma espécie de ritual que nos alivia a consciência, mas não nos alivia a existência.

A missa é muito mais do que uma obrigação: é um encontro. Encontro de partes que se amam e se complementam. É só abrir os olhos e perceber!

Creio que possa ser diferente.

Pe. Fábio de Melo

Um comentário:

  1. Minha querida amiga, outro dia escutei uma verdade, que me pareceu revelação. Um jeito novo de olhar, a missa não é uma obrigação, nem um dever a cumprir, mas sim um direito que temos a usufruir!!!! Evangelizar é preciso!!!

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