segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ainda sobre o Pai nosso, com Augusto Cury

A oração do Pai-Nosso, uma parada estratégica

As sociedades evoluíram em muitos aspectos, em alguns estacionaram e ainda em outros involuíram. Evoluímos muito na medicina curativa e preventiva. Prolongamos a vida.
Algumas populações vivem em média 80 anos. Aumentamos o tempo de vida biológico, mas como anda a vida média emocional? No meu entender, a diminuímos. Contraditório?Sim.
No passado vivia-se 40 ou 50 anos, mas sentia-se a existência como se ela se estendesse por 400 ou 500 anos. Os eventos eram suaves e lentos. Havia tempo para sentar na varanda, dialogar com os amigos, fazer coisas singelas e extrair grandes prazeres das pequenas atividades. Havia sorrisos reais nos rostos.
Hoje tudo é extremamente rápido, urgente, ansioso, angustiante. Muitos adultos sentem que dormiram e acordaram com 40, 50 ou 60 anos. Têm a impressão de que ontem eram crianças e hoje estão com cabelos grisalhos. Não encontram tempo para conviver com as pessoas que amam nem para dialogar com eles mesmos. Atualmente muitos sorrisos são disfarces.
As pessoas não têm tempo para repensar sua história e filosofar sobre a vida. Raros são os que investem em seus projetos e sonhos mais cálidos. Não sabemos fazer uma parada estratégica para corrigir nossas rotas. Às vezes me vejo preso nesta armadilha.
A oração do Pai-Nosso foi uma dessas excelentes paradas estratégicas de Jesus para pensar os segredos que tecem a vida e refletir sobre os seus mais importantes projetos. Ele interrompeu todas as suas atividades para discursar profundamente sobre o Autor da vida e o ser humano.
Jesus estava famosíssimo. Como muitos que atingem um sucesso estrondoso, era de se esperar que não tivesse tempo para mais nada, que fosse vítima da própria fama e tivesse se tornado uma máquina de resolver problemas.
Mas, para surpresa da psicologia, ousou refazer sua agenda para ensinar a pensar.
Para espanto da filosofia, subiu a uma montanha para ver o horizonte e lá fez um excelente mergulho em seu interior, estimulando os discípulos e a multidão a serem caminhantes no insondável mundo que os tecia como seres pensantes. Foi um fascinante convite à introspecção.
O tempo parou para que ele analisasse os ditames da vida. Jesus instigou seus ouvintes a expandirem sua capacidade de observar, interiorizar, deduzir, criticar e agir. Não queria gerar servos tímidos, frágeis, submissos, mas pensadores livres que mudassem a geografia da história, pelo menos da própria história.
Nesse clima, ele ensinou a sua famosa oração. Ela é dirigida a todo ser humano, de qualquer raça, cultura, religião, mas em especial aos que têm coragem para se esvaziar e se tornar eternos aprendizes, aos que procuram a serenidade e a mansidão, aos que têm sede e fome de justiça, aos que querem construir uma nova sociedade.
Jesus quis mostrar que ninguém deve ser classificado em função de sua liderança empresarial, da fama, da capacidade intelectual ou de títulos teológicos. Demonstrou que, para conhecer Deus e a si mesmo, é necessária uma única condição: ser uma pessoa transparente, desprovida de maquiagem social.
Um simples carpinteiro deixou embasbacados homens e mulheres. O homem que entalhou madeiras usou hábeis palavras para lapidar a alma humana.

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