quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dá cá mais cinco??!!

Li esse artigo e achei oportuno para refletirmos como estamos preparando nossos pequenos para sua primeira confissão... E como é importante a acolhida do padre na primeira e em todas as confissões nessa idade de amadurecimento na fé...
Uma experiência ruim na primeira confissão pode fazer com que seja a primeira e a última, senão a última, uma tortura e infelizmente, muitos sacerdotes não são muito sensíveis nesse quesito. Gostei da atitude desse padre, ele poderia ter esculhambado com a catequista e com a criança, mas pelo contrário, enxergou alguém que estava cheia de medo e insegurança diante dele... Gostei da leitura, por isso, compartilho por aqui!!

É isso aí, dá cá mais cinco! srsr


imagem ilustrativa

Estive recentemente a confessar um grupo de crianças (do terceiro ano) que se preparavam para a sua primeira comunhão. Uma experiência inédita para eles e igualmente, inédita, para mim. Os inéditos, diz-nos a experiência, têm todos os ingredientes para se tornarem em factos memoráveis.


Vamos até lá e espreitar o que aconteceu? 
[Nota: observem as reacções de uns e de outros]

Cada padre tinha para si uma sala reservada, arejada e bem iluminada. Não tinha nada, mas mesmo nada aspecto de confessionário. Antes pelo contrário. No entanto, é muito provável que no imaginário das crianças pudesse ainda estar a imagem estranha de falar de uma coisa ainda mais estranha que são os “pecados”.
Entrou, timidamente, e sentou-se. Estava com ar de quem acabara de sentar-se na poltrona do dentista e a quem, embora ainda criança, lhe seria arrancado a sangue frio e sem qualquer espécie de anestesia o dente do siso. Eh lá – pensei eu – vamos ter que pôr humor nesta confissão. Vamos, vamos! Depois de uma converseta bem disposta, ela disse-me que já estava pronta. Estou pronta, posso começar padre Nuno?
Sim!
Sim!
Sim!
Talvez!
Sim!
Não!
Huumm..., Siim!

Espera aí, espera aí – interrompi-lhe a dita confissão. O que é que é isso do “sim! sim! não, não e talvez”? O que é que ‘tás p’raí a dizer? Disse-lhe, contendo inevitavelmente as minhas gargalhadas. Levantando a cara e poisando o papel, disse-me que estava a responder às perguntas que a catequista lhe tinha dado como ajuda para a confissão.
Muito bem! - disse-lhe, eu. Muito bem! Mas, olha e podes ao menos ler as respostas juntamente com as perguntas. Ah, padre Nuno – interrompeu ela toda despachada – eu prefiro dizer só as respostas. E eu - acrescentei - e eu vou tentar advinhar as perguntas, é isso? 
Não contive a minha postura séria de dentista dos pecados e as gargalhadas foram inevitáveis.
Está bem, então não lês as perguntas e no fim vais dizer assim duas coisas de que gostavas de pedir desculpa e, depois, duas-três coisas boas em ti. Combinado?
Sim!
Sim!
Talvez! E continuou ela, até ao fim sem qualquer hesitação com o papel diante dela.

No fim do questionário e depois de ter dito as duas coisas que gostava de pedir desculpa e as duas-três coisas de que gostava de agradecer, chegara naturalmente o momento da a-b-s-o-l-v-i-ç-ã-o. Pausadamente e com a devida solenidade leu o ato de contrição e depois fizera, eu, uma breve e simples oração para agradecer.
E levantei o braço e estendi a mão. Levantei a mão para o gesto do perdão, da absolvição.
Nesse preciso instante, ela já bem-disposta e sorridente teve o instinto de levantar também o braço dela. Naquela fracção de segundos haviam dois braços levantados: o meu e o dela. 
Também instintivamente ela tem a iniciativa de bater com a mão dela na minha mão. 
Dá cá mais cinco.

Com uma gargalhada e com boa disposição, avançamos para o gesto do perdão.
Bem-disposto fiquei eu, que depois de uma manhã intensa de trabalho me sentia cansado e mal esperaria eu que a alegria viesse de um confessionário. E desta feita do lado de lá. E afinal também vem.

Sempre ouvi dizer isto e é o que sempre digo.
Mas, às vezes é preciso ver para acreditar.

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