terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Catequese com adultos



1- Objetivo a alcançar

O grande objetivo da mobilização nacional em prol da Catequese com Adultos (anos 2000-2001), foi que todos os nossos pastores, agentes pastorais, responsáveis pela educação da fé dos adultos em nossas comunidades, movimentos, paróquias, dioceses e regionais, desencadeassem uma ampla reflexão sobre a prioridade da Catequese com Adultos, acompanhada de decisões e de iniciativas práticas. Isso obviamente precisa ser continuado.

Já há decisões sobre isso, tomadas pelo episcopado brasileiro, e já faz tempo, 20 anos, - em 1983 -, mas que até agora não foram levadas suficientemente em conta. Comento brevemente o qur nossos bispos nos dizem no Documento Catequese Renovada, no parágrafo 130, texto que, aliás, foi muito divulgado em 2001:

1.1- "É na direção dos adultos que a Evangelização e a Catequese devem orientar seus melhores agentes. São os adultos os que assumem mais diretamente, na sociedade e na Igreja, as instâncias decisórias e mais favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade.

Não podemos evidentemente, diminuir em nada a importância e a melhoria da catequese com crianças e jovens. Mas precisamos nos convencer, de uma vez por todas, de que tudo na Igreja e na sociedade depende dos adultos. Quem toma as decisões e, na prática, as faz acontecer são os adultos. Nossos bispos têm toda a razão em afirmar que são os adultos os que, na verdade, mais favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade.

O mundos da política, da arte, da comunicação é conduzido e alimentado pelos adultos, homens e mulheres, estas, ainda bem, cada vez mais presentes em instâncias antes ocupadas prepoderantemente pelos homens. O que vem na atualidade é a imensa quantidade de adultos sem ética, dominados pela corrupção, por interesses particulares ou corporativos escusos, marcando o destino da população, especialmente das crianças e jovens, envenenados por contra-valores e pseudovalores apresentados como a grande proposta para se afirmar na sociedade. A hipnose coletiva, produzida pela ideologia sem ética, dominante hoje, é tão avassaladora e poderosa que é diminuto o número dos que, corajosamente, se posicionam criticamente a respeito desta deslavada situação de apodrecimento moral e social.

Como investir em educação e catequese de crianças e jovens, se o eu vive e faz o mundo dos adultos, é frontalmente contra os valores humanísticos e, mais ainda, contra os valores evangélicos? A CNBB, já em 1983, decide: "É na direção dos adultos que a Evangelização e a Catequese devem orientar seus melhores agentes". Mas, será isso o que está acontecendo em nossas Dioceses, em nossas Paróquias, nas CEBs, nos Movimentos, nos Grupos? O que vamos fazer agora para colocar isto em prática?

1.2- E nosso pastores, naquela época, detectavam três falhas graves na maneira como os adultos católicos viviam a fé cristã. "Urge que os adultos façam uma opção mais decisiva e coerente pelo Senhor e sua causa, ultrpassando a fé individualista, intimista e desencarnada". Comentemos um pouco este diagnóstico. Se4r´q eu algo dele ainda persiste hoje, vinte anos depois?

a) fé individualista. Trata-se de uma perigosa dimensão da religiosidade, isto é, a busca das forças transcendentes e da religião para atender a interesses individuais, sobretudo de índole material. Quem assim se comporta facilmente procura manipular Deus e todas as forças religiosas.

Analisando a prática dos fiéis, detectou-se que o devocionismo estava carregado de busca de milagroso, do extraordinário, do esotérico, da manipulação dos santos em favor de saúde, emprego, dinheiro, sucesso... Em geral os fiéis estavam sem bases bíblicas, doutrinais, litúrgicas, indo aos templos, particularmente santuários, e usando imagens e santinhos visando acima de tudo bens materiais. Havia uma perigosa ausência de referenciais bíblicos e teológicos corretos e não havia demonstração de esforço de conversão, de se colocar Deus e sua glória em primeiro lugar.

E havia também um começo de outra faceta do individualismo entre os católicos: a busca de Deus par satisfação afetiva, emocional, catártica. E ainda havia um bom número dos que tinham seu catolicismo sem precisar da comunidade. Evidentemente que este tipo de fé individualista não conduzia a melhora alguma nas relações humanas em casa, na sociedade, e a nenhum compromisso com a comunidade eclesial, nenhum compromisso com a justiça social.

É bom nos questionarmos em que pé está este ranço individualista entre nós cristãos católicos e o que estamos fazendo para superá-lo. Ora, isso tem de aparecer na catequese, principalmente com adultos. E é interessante, e isso tenho realizado, colocá-los a trabalhar este texto da CNBB. Dá margem a muita horas de reflexão e oração...

b) fé intimista. Retomo aqui um aspecto individualismo, que acima aventei. Constatava-se, naqueles idos de 1983, uma forte tendência a um uso da religião como tentativa de satisfação afetiva pessoal, de catarse psicológica coletiva, auto-ajuda. Reduzia-se Jesus, o Espírito Santo, Nossa Senhora, os Santos, a função de empregadinhos da necessidades íntimas das pessoas, trazendo o que se denominava, então, paz interior, alegria, entusiasmo contagiante, sensação de esta andando nas nuvens, repouso...

O importante na fé intimista está, acima de tudo, em "sentir-se bem", na compreensão de que a religião existe para isso: cura interior, satisfação íntima. Qualquer exigência em termos de caridade, solidariedade, compromisso, virada política segundo os valores do Evangelho, entre os quais a prioridade dos pobres... Não era aceita, já que levava a uma certa problematização interior, misturava política com fé.

O que responderíamos a esta questão da "fé intimista" hoje?

c) fé desencarnada. A fé individualista e intimista obviamente é desencarnada. Os bispos denunciaram, então, o grave perigo de um cristianismo fechado ao mundo, sem o profetismo social, aliado à ideologia militar da época e ao neoliberalismo-de-mercado, desarticuladores das iniciativas populares em prol da justiça e da solidariedade. E é bom lembrar aqui que naquela época levantavam-se duras calúnias á Teologia da Libertação, às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), à Opção Preferencial pelos Pobres, a Líderes proféticos, o que foi gerando sérios conflitos até mesmo nas fileiras do episcopado.

Cabe aqui também a pergunta: "Como está em nossa Igreja, hoje, esta" fé desencarnada?"

Passaram-se trinta anos. Há pouco tempo, em sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, de Janeiro 2001, o Papa foi contudente a respeito destas falhas bastante comuns entre os fiéis adultos católicos, ao afirmar: "Deve-se rejeitar a tentação de uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação e, em última análise, com a propría tensão escatológica do cristianismo" (NMI, 52). E o Papa alude ao Concílio: "A mensagem cristã - diz o Concílio na Gaudium et Spes, 34 - não desvia os homens da construção do mundo, nem os leva a negligenciar o bem de seus semelhantes, mas antes os abriga mais estritamente, por dever, a realizar tais coisas".

d) E quanto às influências dos adultos na fé tanto na Igreja como na sociedade, escreviam os bispos em 1983: "Os adultos, num processo de aprofundamento e vivência da fé em comunidade, criarão, sem dúvida fundamentais condições para a educação da fé das crianças e dos jovens, na família, na escola, nos Meios de Comunicação e na própria comunidade eclesial".

É este o sonho acalentado pela CNBB: leigos/as na fé assumindo com garra e competência a missão que lhes cabe na família, na própria Igreja e em todas as instâncias da sociedade. Mas é um sonho de toda a Igreja. E, em coerência, era preciso, porém, colcoar os adultos católicos, decididamente, num "processo de aprofundamento e vivência da fé em comunidade", o que até agora não aconteceu. A mobilização pela prioridade da Catequese com Adultos veio ajudar a levantar esta causa, que esperamos seja, de fato, de toda a Igreja, e que seja levada à prática.

2- Quanto à metodologia

Na maior parte das vezes, quando se convida um assessor para catequese, o que mais dele se espera é orientações sobre didática, até mesmo, "receitinhas mágicas" para uma "boa aula de catequese" e, também, "aulas" já preparadas, prêt-à porter, "que dêem o menor trabalho possível ao catequista e tenham ótimo resultado", muitas dinâmicas de grupos, historinhas, encenações, etc. é compreensível que isto aconteça, mas é fundamental, sem em nada desprezar a importância dos subsídios didáticos, ir sempre ao essencial, ao mais importante: impulsionar, com vigor, passos existenciais no caminho da maturidade cristã, que vão além destas receitas.

Primeiro é preciso, em catequese, assim como nos Seminários e Faculdades de Teologia, Casa de Formação, ultrapassar o referencial escola: aulas, planos de aulas, catequista visto como professor, catequizando visto como aluno de catequese, subsídio catequético tratado como livro didático de uma disciplina escolar, estilo de contato como sendo de professor-aluno... E quando este referencial se torna necessário, é preciso redimensioná-lo dentro das características da catequese, que age a partir da fé e dentro de um contexto de experiência de fé, de celebração da fé, de convivência entre irmãos não caminhada da fé. Este "estilo" dá o específico do encontro de Catequese.

Irmão Nery FSC

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