terça-feira, 26 de junho de 2018

O que “Moana” pode nos ensinar sobre Tradição e tradicionalismo


Achei interessante essa postagem e tomei a liberdade de publicá-la na íntegra, dando os devidos créditos.  Peço que naveguem por esse site (www.semprefamilia.com.br) que por sinal, tem artigos riquissimos. Cheguei no site quando fazia uma busca pelo artista  sacro, padre Marko Ivan Rupnik, citado por frei Jose Maria na  formação sobre liturgia na minha paróquia. Vale a pena pesquisar e vasculhar as obras de arte desse grande artista, que profundidade!
!
Nos tempos atuais precisamos saber qual a diferença de tradição com t minúsculo e Tradição com T maiúsculo. Toda essa reviravolta que está acontecendo na catequese é justamente para fazer o resgate da identidade cristã, que foi se perdendo. A maioria são batizados por tradição(t), por tradicionalismo. Porém, estamos no pé que estamos, cristão sem pé nem cabeça, descompromissados, desorientados.
Todo esse trabalho para que aconteça esse resgate na maneira de formar cristãos dos primeiros séculos (inspiração catecumenal). A catequese  à serviço da Iniciação Cristã.


Por 



"Gostaria de compartilhar uma coisa que me chamou a atenção quando assisti a Moana: Um Mar de Aventuras, filme da Disney de 2016: o filme é uma ótima maneira de entendermos melhor a diferença entre as “tradições” com minúscula e a “Tradição” com maiúscula no âmbito cristão. Como assim? Acompanhe – e cuidado com os spoilers.



No filme, a jovem Moana faz parte de uma comunidade que vive em um arquipélago do Pacífico. Ela se sente atraída pelo mar e desejosa de explorar o que há além dos recifes que cercam a ilha, mas é barrada pelo seu pai, o chefe da aldeia, e pelos outros membros da comunidade. Os habitantes da ilha temem o mar e procuram reprimir as crianças e jovens que se sentem fascinados por sua imensidão e suas possibilidades.

Isso porque décadas atrás o pai de Moana perdeu o seu melhor amigo durante uma tempestade em alto mar. Desde então, o povo vive da coleta de cocos em vez da pesca. Mesmo quando os cocos da ilha passam a vir estragados e quando os peixes somem das praias, os habitantes continuam relutantes a avançar para o mar aberto.

A avó de Moana, Tala, respeita a decisão do chefe, mas ainda assim alimenta o sonho de Moana de conhecer o mar. Ela mostra à neta uma caverna secreta, oculta atrás de uma cachoeira. Ali Moana encontra as embarcações que o seu povo utilizava no passado e descobre que eles eram navegantes, viajantes, aventureiros!

Apenas o relacionamento entre Tala e Moana já daria muito pano para a manga, pois reflete muito bem o que o Papa Francisco pensa sobre a interação entre os idosos e os jovens – Joel (2, 28) diz que os idosos sonharão e os jovens profetizarão e o papa diz que os jovens só podem profetizar se receberem os sonhos dos idosos. Mas esse assunto fica para outra hora. Aqui nos interessa explorar essa relação do povo da ilha com o mar.

À primeira vista, aquela comunidade tinha a tradição de ser avessa ao mar. O oceano era praticamente um tabu. “É assim que nós somos”, uma jovem como Moana poderia pensar. Essa atitude é relativamente compreensível, devido à dor da perda do amigo do chefe. Tentou-se até mesmo esconder a história passada, ocultando os barcos na caverna e evitando tocar no assunto.

Mas acabamos descobrindo que essa postura não reflete verdadeiramente a identidade daquela comunidade: eles têm DNA de navegadores! Foi o medo que lhes roubou a identidade e que os fechou na ilha. No final do filme, depois da jornada de Moana, o povo da ilha volta a se aventurar pelos mares – e assim abandona a sua tradição para reconquistar a sua Tradição.

Na Igreja acontece algo parecido. As tradições – que, com T minúsculo, são sinônimo de costume – são mantidas na ilusão de que “sempre foi assim”. Essa ilusão é a raiz do tradicionalismo. Não é raro encontrar na conservação incondicional das tradições um impulso de medo, de ensimesmamento ou de infidelidade à verdadeira Tradição. Por isso Jesus é duro com as tradições quando, por causa delas, invalidamos a Palavra de Deus (cf. Mt 15, 1-9). No filme – e na Igreja –, é possível ver como uma comunidade fundamentada apenas nas tradições gera uma atmosfera de medo, resignação e desencanto.

Já a Tradição é precisamente a transmissão de geração em geração daquilo que nos faz vivos, daquilo que nos dá identidade – do próprio anúncio cristão. O conceito de Tradição nos lembra que o Evangelho não é essencialmente uma doutrina dada por escrito, mas uma realidade transmitida pessoa a pessoa. A Tradição é uma “presença vivificadora”, como diz o Concílio Vaticano II, na constituição dogmática Dei Verbum (n. 8). No belo aforismo de Gustav Mahler, “a tradição não é a adoração das cinzas, mas a transmissão da chama”. Segundo a Dei Verbum, a Tradição é algo dinâmico, que progride continuamente, desvelando novos significados e novas exigências da fé em Cristo Jesus.

Como as embarcações escondidas atrás da cascata, a Tradição está sempre presente no povo fiel de Deus, mas como um rio cársico, que às vezes corre subterraneamente e às vezes emerge. Redescobri-la requer, muitas vezes, que abandonemos as tradições, reconhecendo-as como a obra de mãos humanas.

É assim, porém, que redescobrimos a nossa identidade, como o povo da ilha, em Moana, redescobriu o seu amor por navegar, a sua habilidade em navegar, a sua vocação de navegar, a sua missão de navegar – um dom recebido das gerações passadas. A Tradição – a verdadeira – abre novas possibilidades, devolve a alegria, fecunda a comunidade e torna a fé capaz de dizer algo aos homens e mulheres de hoje.


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