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Falamos sobre o sinal da cruz, mas e o gesto das três pequenas cruzes que traçamos? Ficamos meio perdidos quando queremos nos dirigir a um e outro, traçar o sinal da cruz e quando queremos PERSIGNAR-SE.
Ahammm???? Interessante saber! Li esse texto e achei oportuno partilhar com vocês...
COISAS QUE SEI SOBRE O ATO DE PERSIGNAR-SE E O SINAL DA CRUZ – Texto de Anderson Dideco.
Um pouco de gramática – Segundo o linguista e dicionarista Evanildo Bechara, a palavra persignar-se vem do latim e se refere ao ato de “fazer com o polegar três sinais em cruz, na testa, na boca e no peito”. Desmembrando a palavra, temos: a preposição per, que na língua portuguesa do Brasil caiu em desuso há muito tempo, mas que está na origem das contrações com artigos definidos que formaram pelo, pela; e o vocábulo signo, que tem o mesmo sentido de ‘sinal’. Desse modo, persignar-se se apresenta como aquele gesto que os mais antigos chamavam de “fazer o ‘pelo sinal’”.
Significado – Esta expressão, nem de todos conhecida, se deve às palavras que acompanham o ato de persignar-se. Ao traçar a cruz sobre a testa, os orantes invocam: “Pelo sinal da Santa Cruz”; traçando a cruz sobre a boca, suplicam: “livra-nos, Deus, Nosso Senhor”; e quando a cruz é traçada sobre o peito, exorcizamo-nos “dos nossos inimigos”. Trata-se de uma jaculatória (pequena oração de fácil memorização) que acompanha os gestos descritos acima e lhes empresta um significado espiritual muito específico, mas que não é sempre recordado.
Aspecto litúrgico – Mesmo na liturgia da Santa Missa, a assembleia faz esse gesto – talvez um pouco sem perceber. É traçando a cruz sobre si (testa, boca e peito) que seguimos as palavras do celebrante, no momento em que este anuncia: “Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo [um dos quatro evangelistas]”.
O momento litúrgico, onde o Evangelho assume o centro das atenções, acaba por favorecer o esquecimento e a distração com que, infelizmente, cercamos a realização deste ato tão simbólico. Para melhor praticá-los, é bom recordar o ‘para quê’ destes gestos: com o traçar das três cruzes, pedimos interiormente a Deus que “abra nossa mente para entender, nossa boca para anunciar e nosso coração para acolher” a Palavra que está sendo proclamada. Sem essa consciência, este ou qualquer gesto dentro da liturgia perde o sentido.
Bom costume – Mas também fora do ambiente litúrgico, podemos readquirir o hábito de iniciar o ‘sinal da Cruz’ com esta jaculatória e este gesto. Pessoas simples, do interior, ou os de mais idade, ainda mantêm esse bom costume. Quem, por exemplo, ajuda a divulgar o ato de persignar-se é a Luzia Santiago, cofundadora da Comunidade Católica Canção Nova, que jamais inicia suas conduções de oração, na televisão, sem fazer o ‘pelo sinal’ antes do ‘sinal da Cruz’. É bonito quando aliamos a compreensão do significado profundo daquilo que ofertamos a Deus, desde o menor dos atos. Quando não acontece desse modo, entramos no âmbito perigoso da superstição, dos amuletos e modismos.
E o “Sinal da Cruz”? – “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.” Creio não haver quem não conheça este sinal característico dos cristãos. Entretanto, poucos gestos terão perdido tanto da sua sacralidade ao longo do tempo. A falta de formação religiosa e o secularismo galopante de nossa sociedade são os principais responsáveis por isso. Muitos ainda fazem o sinal da Cruz diante dos templos católicos e em circunstâncias de angústia, perigo ou tribulação. Mas sabemos que quase nunca compreendem o por quê de o fazerem.
A importância do “e” – Haverá mesmo alguns sacerdotes que não o sabem, mas as conjunções aditivas ‘e’ entre as três Pessoas da Trindade, invocadas no ‘sinal da Cruz’, não são casuais e muito menos opcionais. É a presença delas que garante a correção teológica da invocação, já que coloca o Pai e o Filho e o Espírito Santo na devida condição de igualdade de Sua comum divindade. Uma vírgula, usada gramaticalmente para enumerações, poderia fazer supor uma falsa ideia de hierarquia entre as Pessoas divinas.
O alcance do gesto – Por ter o poder de renovar as graças batismais – que nos foram comunicadas “em nome da Trindade” –, o próprio traçar do gesto precisa ser bem realizado, sob o risco de não obter o seu alcance sacramental. O ‘sinal da Cruz’ é para ser traçado sobre todo o corpo do orante: o “Pai” sobre a testa e o “Filho” na altura do umbigo, manifestando a dimensão vertical da Cruz, e o “Espírito Santo” sobre os dois ombros, o esquerdo e o direito alternados, mostrando-lhe a dimensão horizontal.
Raciocinemos: se é para representar a Cruz da Redenção, da qual Cristo pendeu para nossa salvação, este sinal reveste-se de uma dignidade impressionante. Não podemos fazê-lo de qualquer maneira, de um jeito displicente e descuidado. Quando invocamos o “Filho” com a mão sobre o coração, por exemplo, por mais que isto revele uma intenção sentimental, concordam que a Cruz simbolizada acaba se mostrando ‘capenga’ (ou seja: sem pé)?
Também não é para sacudir as mãos como se espantássemos mosquitos de nossa fronte: esse ato, como qualquer outro que façamos em direção a Deus, precisa manifestar nosso amor e devoção; pelo menos, nosso respeito ante o sagrado. Sem isso, torna-se vazio e desprovido de propósito. O “Amém” também não deve vir secundado dos desnecessários e equivocados “beijinhos na mão”, que nada acrescentam ao seu sentido de concordância com o que proclamamos.
Por que diante da Igreja? – Nós, católicos, cremos na presença Real de Jesus na Hóstia Consagrada, conservada nos sacrários de nossos templos. Portanto, quando traçamos o sinal da Cruz, diante das igrejas e capelas em que haja um sacrário, estamos saudando essa Presença sacramental do Senhor, que se faz tão próximo de nós. Algumas cidades, como Petrópolis, têm o privilégio de ter muitas igrejas com sacrários espalhadas por seus bairros e distritos. Pode-se dizer que vivemos em um verdadeiro ‘território eucarístico’.
Daí o valor que precisamos atribuir ao gesto; por meio dele, estamos dando testemunho da fé na Presença Eucarística, e anunciando a todos à nossa volta que o Santíssimo se deixa encontrar por aqueles que O busquem de coração sincero. Precisamos avaliar se não teríamos abandonado a prática do ‘sinal da Cruz’ ante as igrejas apenas por vergonha de revelar nossa religiosidade. Esse seria um sintoma grave da perda ou diminuição de nosso apreço por Deus. E a estranheza que poderemos causar aos demais precisa ser encarada como uma oportunidade de evangelização, uma chance preciosa de esclarecer nossos irmãos acerca das verdades em que acreditamos.
É óbvio que, dada a quantidade de templos ao nosso redor, seria no mínimo constrangedor ficar fazendo o ‘sinal da Cruz’ a cada esquina. Entretanto, isso não nos exime da responsabilidade de nos reconhecermos (e nos darmos a conhecer) enquanto cristãos. Uma boa saída é traçarmos sobre nós o sinal da nossa salvação perante o primeiro dos templos por que passarmos, e elevarmos o pensamento para Deus a cada nova igreja que cruzarmos em nosso caminho. Um breve segundo é suficiente para lembrar um trecho bíblico: “Meu Senhor e meu Deus”, ou “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. Ou ainda as jaculatórias, como: “Eis-me aqui, Senhor” ou “Sagrado Coração de Jesus, eu confio em vós”, dentre outras.