Falamos sobre tanta coisa que envolve a catequese, métodos, material, ausência dos pais, planejamentos, mudança de mentalidade, mudança de época, banalização dos sacramentos... Mas, o nosso desafio maior está na formação do catequista. Já falei sobre isso várias vezes e isso me dá uma certa melancolia. Fico meio revoltada mesmo. Porque a maioria dos catequistas e comigo não foi diferente, começamos na catequese sem nenhuma formação bíblica. Primeiro deveríamos ser preparados, assim como Jesus fez com seus discípulos. Formou, depois os enviou.
Será que existe em algum lugar desse mundo alguma paróquia com a preocupação de primeiro formar seus futuros catequistas e só depois confiar a ele essa missão tão exigente, tão importante como a de FORMAR CRISTÃOS?
Me preocupo com a formação básica dos catequistas, principalmente sobre os relatos do Antigo Testamento. Quando o catequista busca, se prepara, corre atrás, ainda está bom. E quando não?
TENHO O GRITO A FAZER E FICARIA FELIZ SE ALGUÉM ME OUVISSE:
ANTES DE EXIGIR, OFEREÇA...
NINGUÉM DÁ AQUILO QUE NÃO TEM...
Quantos anos um vocacionado tem que estudar antes de se tornar um sacerdote?
E o catequista?
Estou publicando um material, que na verdade nem deveria, por causa dos direitos autorais do autor do livro, mas a causa é nobre. Aproveito para indicar esse livro, um dos primeiros que comprei para minha biblioteca catequética. Na falta de uma formação, ele vem nos responder a muitas de nossas duvidas...
Até breve!
Imaculada
Até breve!
Imaculada
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Diz
a Bíblia que Deus mandou Abraão sacrificar o seu próprio filho Isaac! Como pode
Deus exigir isso?
Quem ler o relato
bíblico e o interpretar ao pé da letra sentirá, sem dúvida, revolta e
indignação contra Deus! De fato, não se compreenderá jamais porque Deus exigirá
como prova da fidelidade de Abraão, o sacrifício do próprio filho!
Mas não se pode ler os
textos bíblicos ao pé da letra. Essa narração a respeito de Abraão é também um gênero literário, isto é, um modo de se escrever; tem a finalidade de
ilustrar duas grandes idéias: primeiramente, a fidelidade de Abraão a Deus,
e depois mostrar que o Deus de Abraão é o Deus da vida e não da morte.
Para o autor, Abraão
fora de tal modo fiel ao Deus verdadeiro que, para cumprir um compromisso com
ele, esteve disposto até a sacrificar-lhe o seu próprio filho – como se faziam
as religiões pagãs para com os seus ídolos.
Por essa fidelidade
absoluta, Abraão foi digno das grandes promessas que Deus lhe fizera: ter
grande descendência, tão numerosa quanto a poeira da terra e as estrelas do céu
(GN 13,16; 15,5)
A
força do relato está no realce que dá à fidelidade de Abraão a Deus e ao alto
grau de sacrifício que ele estava disposto a fazer pelo Deus verdadeiro
que a ele se revelara na longa caminhada e com quem se comprometera. Por outro
lado, essa narração é, segundo a Bíblia, protesto radical contra o costume
cananeu de sacrificar aos deuses os filhos primogênitos. Tal costume era
condenado por Deus (Lv 18,21/ 20,2-5; Dt 12,31; 18,10). Mas alguns reis ímpios
tinham tentado reintroduzir essa prática em Israel (2Rs 16,3; 21,6; 23,10).
Contra esse abuso é que
o autor protesta e usa a história de Abraão para mostrar que o Deus de Israel é
o Deus da vida e não da morte. Insere então, já na história de Abrão, a rejeição
por Deus desse costume pagão. Sublinha com isso a tradição israelita do
respeito pela vida; os primogênitos dos israelitas deviam ser resgatados (Ex
13,11-12) e não sacrificados; isto é, deviam ser consagrados ao Senhor e não
oferecidos em sacrifício.
O episódio pode ser
considerado como relato de “fundação de santuário”, isto é, feito com a
intenção de mostrar aos leitores que no monte Moriá estava o santuário do Deus
vivo, o Deus de Israel, no qual não se ofereceriam vítimas humanas, e sim
apenas animais. O monte Moriá é, segundo Gn 22,2, o monte sobre o qual Abraão
sacrificaria o próprio filho, como é também, segundo a tradição de 2Cr 3,1, o
monte sobre o qual fora depois construído o Templo.
Nessa ótica o relato do
sacrifício de Isaac perde todo o peso de tragédia e ganha colorido histórico e
teológico especial que o torna um dos mais belos e significativos relatos
bíblicos: quer mostrar a fidelidade absoluta de Abraão a Deus; sublinha a idéia da originalidade do deus de Israel, que
é o Deus da vida( e não da morte, como eram os deuses pagãos); é relato
histórico-litúrgico sobre a existência do santuário de Deus no monte Moriá
(onde no tempo do autor estava edificado o Templo); e finalmente, à Luz do NT,
esse relato tipifica a paixão do Filho único de Deus, sacrificado pelos pecados
do mundo, como vítima da Aliança definitiva.
Do livro “Bíblia:
perguntas que o povo faz de Frei Mauro Strabeli
Editora Paulus